Silêncio II
A um tempo vejo praticantes entrando e saindo do escritório dele, Si Fu está mais presente do que nunca no Mo Gun e eu ficava emburrado pensando o Si Fu nunca me chama.
Tudo bem, confesso que estava um pouco melancólico por conta do cansaço e isso talvez não fosse uma completa verdade, mas à medida que a vida adulta exige de você determinada conduta e eficiência torna-se extremamente prazeroso fazer pirraça e tomar algumas atitudes irresponsáveis.
O que é perigoso, confesso, por isso vou me contentar com essa afirmação infundada. Sim o Si Fu vive chamando o André e o Guilherme para dar bronca aqui neste mesmo escritório e nunca me chama também, pensando bem levar bronca não está na minha lista de prioridades, que continue chamando só ao André e o Guilherme.
Si Fu retoma o assunto:
— Tá tudo bem? Você está com uma cara horrível.
Neste momento eu tiro o sorriso bobo do rosto, desestufo o peito, respiro mais aliviado, pela primeira vez em muito tempo posso tirar aquela fantasia, me afundo naquela cadeira. Noto que a cara do Si Fu não estava muito melhor que a minha, ele também estava terrivelmente cansado e pela primeira vez no dia sorrio de forma honesta e despretensiosa.
Ele afirma e pergunta em seguida:
— Também estou cansado, e aí quem você acha que está mais cansado (rindo).
Afirmo:
— Acho que estamos igualmente cansados, Si Fu.
— Bom discípulo, ele afirma.
Não sei dizer se aparentei chorar, já não estava muito preocupado com minhas fantasias rotineiras. Mas internamente chorei.
Me induzi internamente a questionar se o que fazíamos era certo, porque eu estava tão cansado…
Francamente eu nunca tive dúvida da resposta afinal em qual outro lugar eu pude ser tão transparente e olhar nos olhos de alguém igualmente disponível e honesto.
Dentro do Kung Fu já ouvi sobre amor antes de diversas formas, uma delas diz a respeito do zelo ser o que a gente chama de amor em movimento, mas naquela noite eu pude dizer; Amor também é silêncio, e eu amo o meu Si Fu e a minha família Kung Fu.
Pronto, já posso sair do seu escritório e chamar o André e o Guilherme para levar mais bronca, afinal eles estão trabalhando tanto ultimamente que talvez seja uma boa hora para eu assumir algumas coisas no Mo Gun.
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(André em uma das Cerimônias mais importante na história de um praticante) |
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(Guilherme em uma das Cerimônias mais importante na história de um praticante) |
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Notas:
* Meu Si Fu é o Mestre Sênior Julio Camacho, Líder do Clã Moy Jo Lei Ou, aparece tanto na primeira foto quanto nas duas ultimas estendendo a mão ao André e ao Guilherme.
** Sentada ao lado do Si Fu, vemos a Si Mo, Marcia Moura, Co-Líder do Clã Moy Jo Lei Ou, pilar fundamental da cerimônia mencionada na legenda.
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